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Entre especialistas, a maior preocupação quanto ao conforto térmico ocorre em edifícios comerciais, nos quais se tornou comum replicar modelos arquitetônicos de países com climas diferentes.
É o caso dos edifícios “pele de vidro”, que geralmente são selados (não dá para abrir as janelas) e dependem de ar-condicionado para funcionar.
“Hoje se pensa em otimizar um edifício para o uso do ar-condicionado. Tem de se otimizar o funcionamento em relação ao clima e só usar o ar-condicionado quando for realmente necessário”, argumenta a arquiteta Adriana Camargo, do Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade do IPT. “A pandemia veio mostrar a importância ventilação natural.”
“(Prédios de vidro) são um grande coletor solar de vidro. Não amortecem, vão amplificar a temperatura, muito acima da externa, pelo efeito estufa que o vidro proporciona”, avisa a física Maria Akutsu, também pesquisadora do mesmo Laboratório Ambiental do IPT. “No Japão, a tendência é condicionar microambientes, só o entorno da pessoa, não o edifício todo.”
Ela também aponta problemas de ventilação em grande parte dos apartamentos entregues em São Paulo, como a falta de janela em banheiros e o pé-direito baixo.
Por isso, tanto Maria quanto Adriana defendem mudanças na legislação, para definir critérios mínimos para garantir o conforto térmico.
O bambu, o adobe, a taipa e outras matérias-primas e técnicas vernaculares têm ganhado espaço na arquitetura, décadas após ficarem restritos a construções vistas como rústicas ou exóticas. Impulsionada pela busca por soluções mais sustentáveis, a bioconstrução e o design biofílico vêm ganhando atenção em projetos de casas, edifícios, escolas e outros espaços para diferentes classes sociais.
Em comum, esses projetos buscam utilizar materiais do entorno, criando um diálogo maior com a realidade e a natureza locais e reduzindo as emissões de poluentes decorrentes do transporte. Se séculos atrás basicamente se construía com pedra, madeira e adobe (feito basicamente a partir da terra), hoje esses materiais ganharam aplicações com base em novos conhecimentos e tecnologia.
Bioconstrução
A Rosenbaum Arquitetura e Design aplica a bioconstrução em projetos premiados internacionalmente. “Nossa grande pesquisa, há alguns anos, está muito relacionada a saberes ancestrais, a tecnologias de baixo impacto que se relacionam com a natureza e atualizam o conhecimento tradicional”, comenta uma das sócias, a arquiteta Adriana Benguela.
O principal projeto da empresa nesse aspecto foi o da escola e internato Canuanã, em Formoso do Araguaia (TO), mantida por uma fundação privada. O espaço foi construído com tijolos de barro sem cozimento, fabricados na obra, e madeira laminada colada.
Segundo Adriana, a partir do conhecimento dos moradores da região, o projeto obteve conforto térmico e, mesmo sem o uso de ar-condicionado, garantiu 7ºC a menos na área interior em comparação à exterior.
Outro projeto que a Rosenbaum desenvolveu (com parceiros) foi para uma escola de cozinha instalada no andar superior do Mercado Central de Belo Horizonte, que ganhou uma estrutura de bambu entrelaçado.
“A gente procurou o grupo de um mestre bambuzeiro da região, que faz trabalho social, uma escola de bambu”, conta.
Também voltado à bioconstrução, o escritório Ecoeficientes trabalha com a readaptação de imóveis já construídos, que chama de “retrofit ecológico”, ou retrofit verde. Em projeto na zona oeste de São Paulo, por exemplo, foi utilizado reboco de terra, enquanto, em outro, na zona sul, se instalaram um piso de bambu e um revestimento feito a partir de folhas de bananeira (que passaram por um processo que as deixou com aparência de tábua de madeira).
“Tem realmente acontecido um grande crescimento, tanto no uso de materiais naturais quanto nessa retomada de uma cultura tradicional”, comenta o arquiteto Rafael Loschiavo, fundador do escritório. “Tem uma facilidade de manutenção. O transporte desse material vai estar mais próximo (para a obra). Estão se descobrindo inteligências que existem nesse método construtivo, valores que estão se transformando agora.”
Híbridos
O uso desses materiais também ganhou espaço em obras híbridas, misturados ao concreto e a materiais menos naturais. O grupo internacional Perkins&Will tem aplicado alguns elementos em parte dos projetos que realiza no Brasil, como um edifício com brises de bambu, um condomínio de casas de taipa e outro projeto ainda em estudo que deve utilizar pedras de basalto.
“É a tecnologia dos tempos atuais sendo aplicada a uma coisa que era de tradição, da cultura”, conta o arquiteto Douglas Tolaine, diretor de Design do grupo. Para ele, o design biofílico ainda não ganhou tanto espaço nas grandes cidades brasileiras por “puro preconceito”.
“Está se falando muito em fazer prédios de madeira (no mundo), residências de terra batida. Se eu disser que vou fazer um edifício todinho de madeira, a primeira coisa que vão falar é de cupim, depois de água e fogo. Mas os templos chineses estão lá, há quantos mil anos, todos feitos de madeira, e sem a tecnologia que a gente tem hoje.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Viva o condomínio
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